O Boca de Rua é um jornal feito por pessoas em situação de rua ou com trajetória de rua. Criado em 2000, em Porto Alegre – Rio Grande do Sul/Brasil, o jornal é totalmente independente e autogestionável.
Textos, fotos e ilustrações são elaborados pelas pessoas em situação de rua durante oficinas semanais.
A versão impressa é vendida e distribuída pelos integrantes do jornal, tornando-se uma importante fonte de renda para cada um deles, e que permite o acesso à moradia e alimentação, proporcionando que muitos saiam da situação de rua e conquistem uma vida mais digna. A versão digital oferece uma assinatura mensal, com edição trimenstral, onde os valores arrecadados são integralmente revertidos para os cerca de 30 participantes do grupo
(2023) e para arcar com os custos da impressão do jornal e da sua sede, localizada no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.
História
O projeto do jornal foi idealizado em 2000. Em dezembro de 2000, com a chamada da capa “Vozes de uma gente invisível”, acompanhada de um texto que apresentava logo de cara a proposta do jornal. Confira um trecho: “O povo da rua passa fome, não tem onde morar, dorme na beira das calçadas, debaixo da ponte, dentro dos esgotos, nos carrinhos de papelão ou em casarões abandonados.
Mas o povo da rua fala. O povo da rua tem boca. […] Acreditamos que o Boca de Rua vai ser importante para os que convivem nas ruas, porque será a sua voz.
Também para a sociedade vai ser importante, porque vai botar na cabeça das pessoas o pensamento das pessoas que convivem nas ruas. […] Como disse Jim Morrison (líder do grupo de rock The Doors): “Mesmo o relógio parado está certo duas vezes por dia”. Hoje, o Boca, como é conhecido, é o único dentre os filiados à International Network Street Papers (INSP), associação mundial de publicações produzidas por pessoas em situação de rua, integralmente elaborado por essa população.
Atualmente (2023) o grupo conta com cerca de 30 pessoas em situação ou com trajetória de rua. Eles se reúnem semanalmente para debater tópicos e assuntos a serem abordados na próxima edição do jornal. Todos opinam, definem pautas, escrevem, fotografam, produzem, saem a campo, realizam entrevistas e colhem depoimentos para as matérias. Quando os integrantes do Boca se reúnem, formam uma roda. “Ninguém fica na frente de ninguém.
Todos podem olhar nos olhos da mesma distância”, essa é uma das diretrizes desses encontros, que valoriza e potencializa os talentos e o desejo de desenvolvimento de todos, sem exceção. As publicações do Boca de Rua acontecem de modo trimestral e sua cobertura abarca desde denúncias de violações sofridas por quem está na rua a histórias positivas.
Após a impressão, cada membro do grupo recebe uma cota de exemplares para comercializar nas ruas de Porto Alegre. O valor arrecadado é todo dos repórteres-jornaleiros, os Doutores em Ruaologia. A publicação também se mantém com doações de apoiadores, muitos deles anônimos, que não pedem contrapartida pela contribuição. Com a pandemia da COVID-19, o formato foi adaptado para versões em pdf. Hoje se mantém as duas versões e é possível assinar o jornal pela página da campanha na Benfeitoria.
Rosina Duarte, uma das idealizadoras do Boca de Rua e da ONG ALICE (Agência Livre para a Informação, Cidadania e Educação), à qual o jornal está vinculado, conta que o objetivo inicial era “dar voz a quem não tem”. Com o tempo, porém, perceberam que isso era presunçoso. “As vozes sempre estiveram lá, a sociedade apenas não as escutava”, diz ela.
Com o tempo, o jornal também se tornou uma espécie de movimento social. O grupo também discute reivindicações coletivas e possibilidades de apoio a questões individuais de seus membros.
Também é ligado a iniciativas do meio, como o Movimento Nacional da População de Rua e o Amada Massa, uma padaria que tem como objetivo gerar a autonomia de pessoas em situação de vulnerabilidade e com trajetória de rua em Porto Alegre.
Nossos jornalistas são grandes Doutores em Ruaologia, verdadeiras referências quando o assunto é a sobrevivência nas ruas. Eles fazem parte da nossa equipe e ajudam a construir um dos jornais mais interessantes do Brasil: um jornal feito totalmente por pessoas com trajetória/em situação de rua.
ASSINE O BOCA
O jornal Boca de Rua é um projeto totalmente independente e autogestionado, no seio da Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação – ALICE, organização sem fins lucrativos que trabalha desde 1999 com direito à comunicação de comunidades marginalizadas pela mídia tradicionais.
Todas as colaboradoras são voluntárias. O principal custo do projeto é portanto a própria impressão do jornal, além de despesas estruturais da sua sede.
O Boca de Rua não recebe hoje nenhum apoio público nem privado (de partido ou empresa). Ele é sustentado apenas por doações de pessoas físicas que acreditam nele – porém não interferem de forma alguma no seu conteúdo.
Premiado pela International Street Paper Network em 2006, 2007 e 2008, e pela Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul em 2013.
O Boca de Rua propõe uma assinatura online para receber a edição virtual do jornal no seu email e contribuir financeiramente com o projeto.
Existem duas maneiras de apoiar o jornal:
- Fazendo doação pontual de qualquer valor, por pix ou PagSeguro.
- Fazendo uma assinatura virtual. A assinatura é mensal e recorrente a partir de apenas R$10 e assinantes recebem uma nova edição do jornal em PDF, a cada 3 meses.