Exposição Ausenc’as em cartaz no Memorial da Resistência de São Paulo

Suzana Lisbôa, a mãe, Milke Waldemar, e Luiz Eurico Tejera Lisbôa. Crédito: arquivo pessoal

O Memorial da Resistência de São Paulo, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, apresenta de 28 de março a 12 de julho de 2015 sua nova exposição temporária: Ausenc’as (lê-se “ausências”), produzida pelo fotógrafo argentino Gustavo Germano (1964- ). A exposição é composta por 14 dípticos (pares de fotos), retratando 12 famílias de vítimas da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) e 2 famílias da ditadura argentina (1976-1983). A mostra conta também com um vídeo, que apresenta o processo de recriação das fotografias.

Suzana Lisbôa e a mãe, Milke Waldemar; Luiz desapareceu em 1972 durante o regime militar brasileiro e seus restos mortais foram encontrados em 1979. Crédito: Gustavo Germano
Suzana Lisbôa e a mãe, Milke Waldemar; Luiz desapareceu em 1972 durante o regime militar brasileiro e seus restos mortais foram encontrados em 1979. Crédito: Gustavo Germano

A primeira versão do projeto Ausenc’as foi realizada na Argentina em outubro de 2007, tomando como marco os 30 anos depois do golpe militar de 1976, que deu início à última ditadura civil-militar daquele país. Partindo das fotos de álbuns familiares, Gustavo Germano acompanhou e fotografou familiares e amigos de mortos e desaparecidos políticos nos mesmos locais em que haviam sido fotografados anteriormente. Em condições similares, Gustavo destaca com as novas fotografias “a dolorosa presença da ausência do ser querido”.

Foram realizadas exposições tanto na Argentina como em outros países da América Latina, o que inspirou Gustavo a querer colaborar também na visibilização das vítimas de regimes de exceção e na luta pela Memória, Verdade e Justiça dos familiares de outros países. Iniciou, então, uma nova série fotográfica no Brasil e pretende estender seu trabalho especialmente entre os países latino-americanos que foram atingidos pela Operação Condor.

Em 2012, Gustavo Germano produziu a versão brasileira de Ausenc’as, viajando do Ceará ao Rio Grande do Sul, contando sempre com a cooperação dos familiares e amigos de desaparecidos políticos para recriarem seus álbuns de família. Segundo o fotógrafo, as imagens contrapostas permitem “ver as mudanças no entorno e o passar dos anos de um impossível paralelo de presença e ausência”.

O projeto inicial foi realizado com o apoio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil, o trabalho de produção foi da Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (Alice) e a coordenação geral ficou a cargo de Luciano Piccoli. A exposição, intitulada “Ausências Brasil”, foi realizada pela primeira vez no Arquivo Público do Estado de São Paulo, em agosto de 2013.

Para Kátia Felipini, coordenadora do Memorial da Resistência, a exposição vem em boa hora e corrobora com um dos objetivos da instituição, que é o de tratar sobre a questão dos mortos e desaparecidos políticos, para que esta possa ser percebida como um problema de todos os cidadãos brasileiros, e não somente dos familiares e de algumas organizações de direitos humanos.

Sobre a Operação Condor
A Operação Condor foi uma cooperação entre ditaduras na América Latina, permitindo que os serviços de inteligência e forças de repressão de cada país trocassem entre si informações sobre pessoas consideradas “subversivas”. Durante esta ação, muitos cidadãos da Argentina, Chile, Uruguai, Brasil, Paraguai e Bolívia foram sequestrados, desaparecidos e assassinados.

O jornalista e presidente do Centro de Estudos Legais e Sociais da Argentina (CELS), Horacio Verbitsky, observa que o “desaparecimento forçado” foi um método comumente utilizado nas ditaduras a partir da segunda metade do século XX. Os militares latino-americanos acreditaram que, sem corpos, não poderiam ser responsabilizados pelos crimes e não teriam de prestar contas de seus atos. “Mas, ao contrário, conseguiram que aquele passado atroz tenha se tornado um insone presente perpétuo, como a maldição que Neruda pensou para Franco”, continua.

Informações do Memorial da Resistência de São Paulo 

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