Mulheres idosas da fronteira são as protagonistas do filme “Senhoras de si”, dirigido pela jornalista e advogada Lúcia Helena Achutti. Trata-se de um média metragem inspirado no projeto de comunicação desenvolvido pela ALICE no município de Bagé, há 16 anos, e que já gerou um livro (Contos sem Fada – Retalhos de Memória), um jornal (Almanaque) e um livreto da coleção Mulheres Perdidas e Achadas, além de dois prêmios do Ministério da Cultura.
Atualmente em quarentena – pois todas as integrantes são do grupo de risco – o projeto “Sempre-viva – Roda de Memória, Afeto e Resistência” derivou de uma parceria com o grupo Renascer de Terceira Idade, abrigando, a partir do ano passado, integrantes de associações coletivos como a dos Aposentados, dos Cegos, e das Pessoas com Deficiência, entre outros.
O filme conta um pouco desta trajetória, mas o foco principal são mesmo essas pré-feministas que, mesmo sem discurso ou consciência da luta, abriram espaço para as conquistas das gerações seguintes. Ambientado no pampa, tem narração da poeta bageense Fátima Farias de textos coletivos produzidos pelas próprias protagonistas. A trilha sonora é do pianista e compositor argentino Sérgio Olivé.
O relato da experiência, feito pela diretora, expressa o cuidado e a delicadeza da produção: “Fazer o filme me mostrou que a luta das mulheres vale a pena. Foi como costurar uma colcha de retalhos. E o sentido figurado aqui não é só pelos pedacinhos de tecidos que tive que escolher, assim como ouvi e escolhi pequenos trechos de uma vida rica e cheia de detalhes, mas o fato da colcha representar também o que nos cobre, nos protege, nos acolhe e enfeita o lugar onde descansamos e sonhamos. O caminho difícil que elas já trilharam, abriu espaço pra gente que veio depois, é a comprovação de que temos capacidade e dever de seguir em frente, de peitar, e ter coragem para existirmos. Dá a noção exata de que fazemos parte de um todo. Cada história contada, cada vida vivida é um pedacinho dessa colcha que nos conforta e onde colocaremos nosso pedacinho também. Com formatos diferentes, com flores, xadrez ou bolinhas, fizemos a costura entre todos com nossas linhas de diversas cores”.